author:: chicoary
source:: [Precisamos falar sobre o Dugin](https://chicoary.wordpress.com/2020/08/02/precisamos-falar-sobre-dugin/)
clipped:: [[2023-09-23]]
published:: agosto 2, 2020
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[](https://chicoary.files.wordpress.com/2021/01/the-art-of-islamic-healing.jpg)
Ontem aconteceu a palestra do Dugin mas não achei ainda o vídeo que deve ter sido gravado durante a conferência.
[A primeira vez que escrevi sobre Dugin foi na caixa de comentários do blog do Duplo Expresso](http://disq.us/p/273w8fx) estimulado por citações de seu pensamento. Reproduzo abaixo o que escrevi na época.
Tenho visto aqui no DE várias menções ao Diego Fusaro. O que me levou ao site [https://www.diegofusaro.com…](https://disq.us/url?url=https%3A%2F%2Fwww.diegofusaro.com%2Fil-pensiero%2Fo-pensamento%2F%3ACwDsp-pQkxc-xaCFUkx_fHcyjME&cuid=5378096 "https://www.diegofusaro.com/il-pensiero/o-pensamento/"). Lá encontrei: “Assim, mais uma vez, a exigência de propor caminhos de emancipação reais – com Marx e Gramsci – para produzir a saída da caverna da mundialização capitalista e a libertação do gênero humano das patologias do classismo, da reificação e da violência ontológica aos danos dos seres vivos e do planeta. **No tempo da extinção da dicotomia topológica de esquerda e direita, temos de recategorizar o real e pensar diferente, reverticalizar o conflito (Servo X Senhor), repolitizar a economia, estabelecer ética na sociedade, desglobalizar o real e o imaginário, rejeitar a nova ordem mundial classista americanocêntrica, em um novo multipolarismo de Estados soberanos comunitários e democráticos, solidários e centrados sobre o reconhecimento da pluralidade dos costumes e dos povos, das línguas e das culturas (contra o modelo único da mundialização)** \[Grifos nossos\].” O que me fez lembrar do artigo [Três motivos para não dizer “nem esquerda, nem direita”](https://disq.us/url?url=https%3A%2F%2Forangoquango.wordpress.com%2F2013%2F02%2F21%2Ftres-motivos-para-nao-usar-a-frasenem-esquerda-nem-direita%2F%3A-CBi8tOZgQrSsM_ckUFUa88BRsM&cuid=5378096 "https://orangoquango.wordpress.com/2013/02/21/tres-motivos-para-nao-usar-a-frasenem-esquerda-nem-direita/").
E pesquisando mais textos sobre o assunto acabei encontrando por acaso [O fascismo ocultista de Dugin e o sequestro do anti-imperialismo da Esquerda e do anti-salafismo muçulmano. – El Coyote](http://elcoyote.org/o-fascismo-ocultista-de-dugin-e-o-sequestro-do-anti-imperialismo-da-esquerda-e-do-anti-salafismo-muculmano/ "https://trello.com/c/0l40KM43/547-o-fascismo-ocultista-de-dugin-e-o-sequestro-do-anti-imperialismo-da-esquerda-e-do-anti-salafismo-mu%C3%A7ulmano-el-coyote"), que comenta sobre Dugin, incensado no site da [Nova Resistência](http://disq.us/url?url=http%3A%2F%2Fnovaresistencia.org%2F%3ARTg-0Ft88mRrkwMvJuC8hy9WX3U&cuid=5378096 "http://novaresistencia.org/"). No artigo se fala de uma Internacional Fascista e, estranhamente, o DCM cita Dugin em [Aleksandr Dugin: ‘É necessário criar uma frente anti-Bolsonaro’](https://disq.us/url?url=https%3A%2F%2Fwww.diariodocentrodomundo.com.br%2Fessencial%2Faleksandr-dugin-e-necessario-criar-uma-frente-anti-bolsonaro%2F%3AaZHKFCny-RFjbrlVLsLpgLG7BfE&cuid=5378096 "https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/aleksandr-dugin-e-necessario-criar-uma-frente-anti-bolsonaro/"), talvez por causa da frase do título.
Um trecho memorável no [artigo do DCM](https://disq.us/url?url=https%3A%2F%2Fwww.diariodocentrodomundo.com.br%2Fessencial%2Faleksandr-dugin-e-necessario-criar-uma-frente-anti-bolsonaro%2F%3AaZHKFCny-RFjbrlVLsLpgLG7BfE&cuid=5378096 "https://disq.us/url?url=https%3A%2F%2Fwww.diariodocentrodomundo.com.br%2Fessencial%2Faleksandr-dugin-e-necessario-criar-uma-frente-anti-bolsonaro%2F%3AaZHKFCny-RFjbrlVLsLpgLG7BfE&cuid=5378096") é:
> Nela, ele aponta para **a necessidade de uma união entre esquerda e direita autênticas, ou ainda, para a necessidade de uma frente populista unificada, transcendendo os conceitos de direita e esquerda** \[grifos nossos\], idealmente construída, de acordo com ele, sobre o projeto de uma Quarta Teoria Política. Mas isso, porém, ainda não é possível. A eleição de Bolsonaro (“o pior da direita”) só foi possível como reação contra o “pior da esquerda” , e essa oposição expressa um elevado grau de adoecimento da sociedade brasileira.
Resolvi apor este comentário neste DE aproveitando a oportunidade de Dugin ter sido citado nele e Fusaro em oportunidades anteriores.
Tanto Fusaro com Dugin ainda são incógnitas, penso eu, como novo alento para a luta que se mostra necessária. Pelo que ligeiramente li até agora instintivamente começo a pensar que [Nova Resistência](http://disq.us/url?url=http%3A%2F%2Fnovaresistencia.org%2F%3ARTg-0Ft88mRrkwMvJuC8hy9WX3U&cuid=5378096 "http://novaresistencia.org/") parece uma armadilha para “esquerdistas infantis”.
P.S.: Veio-me à cabeça: “Será o Dugin uma rencarnação de Rasputin?”
P.S. 2: Acabo de achar o artigo [O filósofo russo que liga Putin, Bannon, Turquia: Aleksandr Dugin](http://disq.us/url?url=http%3A%2F%2Felcoyote.org%2Fo-filosofo-russo-que-liga-putin-bannon-turquia-aleksandr-dugin%2F%3Apipx4dpCFoRVVJ_t9UDj9Ec_rbo&cuid=5378096 "http://elcoyote.org/o-filosofo-russo-que-liga-putin-bannon-turquia-aleksandr-dugin/") que começa com:
> O ultra-nacionalista russo apelidado de “Rasputin de Putin” pela Breitbart News, que foi dirigido pelo estrategista-chefe do presidente Donald Trump, Steve Bannon, surgiu como um improvável ponto de conexão da política externa para o Kremlin
Do artigo citado no final do comentário acima reproduzo um trecho que me chamou atenção por mostrar a conexão do Dugin com o Trump e a direita “trumpista” dos EUA.
> Dugin, que há muito previu o fim da “hegemonia liberal ocidental”, disse que a eleição de Trump promete mudar o curso da história mundial.
>
> *“Incrivelmente bonito – um dos melhores momentos da minha vida”*, disse ele após a posse de Trump.
>
> Após décadas de acusações contra Washington por buscar a *“ocidentalização de toda a humanidade”*, a ascensão de Trump levou a uma conversão Damascena para Dugin, que declarou o anti-americanismo *“acabado”*.
>
> *“América não só não é um adversário, é um aliado potencial sob Trump”*, disse ele.
Na época encerrei minha rápida pesquisa sobre o Fusaro e o Dugin memorizando preliminarmente e resumidamente o primeiro como um euro-cético e o segundo como fascista-místico-ocultista. E esqueci o assunto. Até que numa *live* (veja abaixo no ponto em que falam do Dugin) com o Attuch e o Pepe Escobar foi citada uma conferência com o Dugin (que aconteceu ontem).
Concordo plenamente com a indignação do Pepe citando Umberto Eco sobre a rede social ter despertado um bando de idiotas que antes não tinha voz ou um canal facilitado para veicular sandices. Antes o *tête-à-tête* obrigatório amortecia o ímpeto dos energúmenos porque até a retaliação física (não necessariamente pela violência física mas retórica e veemente) era uma opção que tornava desagradável afirmar o que se quisesse de forma grosseira ou inconsequente. Até aí “morreu o Neves”. A revolta do Pepe, ex-trotskista conforme declarou, foi ter sido chamado de fascista a próposito de divulgar a conferência do Dugin. Não acho justo chamar o Pepe Escobar de fascista só porque se interessa pelas ideias “eurasianas” do Dugin em razão, acho eu, de seu *metier* de jornalista cujo tema principal é a geopolítica. Embora ache que o viés “espiritualista” da algaravia ocultista do Dugin o atraia. Além da vontade de se contrapor ao *deep state* americano. Mas tudo isto pode ser no futuro visto como uma ilusão de solução e a esquerda parece estar siderada por esta “quarta via” que está surgindo. O Pepe falando que o “imbecil” que disse que o Dugin era fascista não sabia nada sobre o Dugin me caiu mal pois talvez o tal “imbecil” já tivesse feito algum “dever de casa” ao falar isto. E o Pepe deu um tiro de canhão no comentarista que falou mal do Dugin. Pois quando um “imbecil das redes” se contrapões a um “Pepe” com um “traque” ele, do alto da sua experiência jornalística e prestígio, só pode responder como se possuísse um canhão e chamar o opositor de imbecil sem ao menos discutir com o mensageiro. Num “ad hominem” que ele mesmo abomina. Neste aspecto temos que admirar o quão *gentleman* é um Rui Pimenta do PCO que mesmo sendo também uma sumidade no seu meio nunca desmerece mesmo o seu interlocutor mais destrambelhado. Por vergonha alheia ou por vestir a carapuça o fato é que resolvi também, após ter lido algumas opiniões e artigos, partir para ler matéria de primeira mão. Resolvi ler, pelo menos o início, do [livro “A quarta teoria política”, do Dugin](https://docero.com.br/doc/xncc). Não sei se vou aguentar ou conseguir ler todo mas acredito que mesmo lendo a parte inicial, onde provavelmente os princípios são explanados, poderá dar uma ideia razoável do que se trata. Pretendo ir desenvolvendo este post aos poucos à medida que for lendo.
A citação da frase do Umberto Eco pelo Pepe Escobar sobre as redes sociais me fez lembrar do livro [O pêndulo de Foucault](https://duckduckgo.com/?q=o+p%C3%AAndulo+de+Foucault+le+livros&atb=v154-1&ia=web&iai=r1-1&page=1&adx=sltb&sexp=%7B%22v7exp%22%3A%22a%22%2C%22sltexp%22%3A%22b%22%2C%22wiadrk%22%3A%22b%22%7D), que cito no meu post [O ornitorrinco](https://chicoary.wordpress.com/2016/02/21/o-ornitorrinco/), em homenagem ao escritor de Alexandria. Na história, além de mostrar que uma história inventada meio que por brincadeira e totalmente falsa pode mover engrenagens de crédulos do “quia absurdum”, mostra principalmente a loucura que é o ocultismo. O nome desta “seita” já revela o que quer ocultar.
Logo no início da minha leitura do livro do Dugin já me deparei com conceitos e referências no mínimo preocupantes, no sentido de detecção de um movimento de direita ou fascista nas ideias do Dugin, onde já surgem citações a um nacionalismo comum nas potências centrais que geralmente tem um caráter diferente do nacionalismo reativo das periferias voltados para a defesa da soberania enquanto que o outro, mesmo quando fala de soberania, remete ao fascismo pois soberania é diferente a depender da direção em que se olha. Já no início surgem Madame Blavatsky (ocultismo), Carl Schmitt (nazismo), Julius Evola (esoterismo e proximidade com o fascismo italiano), *paideuma* do Frobenius (pesquisador e pensador de uma civilização africana como uma *Nova Atlândida*), teosofia, Nacional-Bolchevismo etc. O universo de elementos “costurados” pelo Dugin é grande e pode dar material abundante para uma parte da esquerda, que quer desistir, se chafurdar. Dugin usa uma estratégia de sedução poderosa. Primeiro declara como inimigo o liberalismo. Também declara que é o vencedor. Como corolário declara como perdedores o fascismo, o comunismo etc. Logo no início do livro vemos:
> No mundo atual, a política parece ter acabado, pelo menos como nós a conhecemos. O liberalismo persistentemente lutou contra seus inimigos políticos que haviam oferecido sistemas alternativos; isto é, o **conservadorismo, o monarquismo, o tradicionalismo, o fascismo, o socialismo e o comunismo** \[grifos nossos\], e finalmente ao fim do século XX, havia derrotado todos eles.
A direita detecta que a esquerda está desarticulada e acena, com um *canto de sereia*, com sedutoras soluções numa colcha de retalho digna de um “universo em desencanto”. Este pano de fundo é escamoteado por uma superfície geopolítica que o justifica como solução para combater o “grande satã” do liberalismo. Lembra um pouco a ideia da esquerda no Brasil de eleger o “poste do Haddad” para barrar o Bolsonaro ou a direita eleger o Bolsonaro para esconjurar o PT e a esquerda no poder (como bem foi colocado no artigo do DCM que citei lá encima). Embora o liberalismo, especificamente o neo-liberalismo, esteja no centro da catástrofe e não seja um espantalho ou homem de palha estritamente pode ser assim encarado conceitualmente nesta ótica de prestidigitação onde se abana com uma mão para que não se veja o que faz a outra. Investigando sobre o Julius Evola descobrimos na Wikipedia coisas bem sérias a seu respeito:
> O historiador Aaron Gillette o descreve como “um dos mais influentes racistas fascistas da história italiana”, enquanto Stanley Payne o aponta como influente para movimentos [neofascistas](https://pt.wikipedia.org/wiki/Neofascismo) contemporâneos.
>
> Julius Evola – [Wikipedia](https://pt.wikipedia.org/wiki/Julius_Evola)
Mas nada confirma mais a Wikipedia do que o cuidadoso artigo do próprio Dugin, sempre dúbio e obscuro que poderíamos apelidá-lo Dubiun.
> \[…\]
>
> **Revolução conservadora é uma versão conservadora da revolução** — isto é, a revolução vista pela Direita — e também **uma versão revolucionária do conservadorismo** — isto é, conservadorismo visto pela Esquerda.
>
> Politicamente, Evola se posicionou à direita da Revolução Conservadora, chegando a se intitular abertamente como “reacionário”. Mas a totalidade do trabalho de Evola — e principalmente seus últimos livros — clara e incontestavelmente mostram a presença de uma **autêntica sensibilidade revolucionária interior**. Tal sensibilidade só pode ser entendida, dentro de uma terminologia contemporânea, como sendo de Esquerda.
>
> \[…\]
>
> O paradoxo da Revolução Conservadora de Evola está mais marcado no campo metafísico do que propriamente no político.
>
> \[..\]
>
> Evola encontra no tantrismo a forma tradicional que melhor reflete sua natureza espiritual. O *vīra* tântrico é seu próprio arquétipo. Ora, mas logo a figura do *vīra* tântrico, que rejeita os laços védicos tradicionais, que se ocupa de práticas obscuras e aterradoras em cemitérios — seria ele verdadeiramente ortodoxo? Falar aqui de uma ortodoxia estrita é impossível. Trata-se de uma ponto que tangencia uma certa “ortodoxia heterodoxa” e, portanto, uma “revolução conservadora” — até mesmo uma metafísica paradoxal. Também cabe lembrar da atitude bastante positiva de Evola referente a certas figuras controversas, como Aleister Crowley, Giuliano Kremmerz, Gustav Meyrinck, etc.
>
> [A Revolução Conservadora de Evola na Metafísica](http://novaresistencia.org/2020/04/07/a-revolucao-conservadora-de-evola-na-metafisica/)
A sensação do “Universo em Desencanto” cada vez aumenta a medida que leio. Se não conhece o Universo em Desencanto, um livro intragável de uma seita do passado que atraiu Martinho da Vila, [Tim Maia](https://youtu.be/gPR_era0y-s) e outros fazendo-os vestir branco, veja em [http://livroracional.com.br/leitura.php](http://livroracional.com.br/leitura.php).
Notatadamente vemos no artigo do Dugin uma técnica de esvaziamento do significado com o intuito de confundir. “Revolução conservadora”, por exemplo, é um paradoxo no texto de Dugin. E uma contradição em termos para quase todo mundo. A revolução busca justamente não conservar uma série de coisas no mundo que atravancam a libertação do potencial humano. Mas a linguagem é construída por metáforas e se presta poeticamente a uma tal flexão. Mas o que na poesia é aceitável e belo levando a nossa imaginação ao píncaros não o é num discurso onde a vontade de potência como dominação é o que se está expressando de forma mais contundente. Começo a ver o esoterismo como componente fundamental desta corrente *duginiana* que, como as *forças telúricas* nas história do Umberto Eco, subterraneamente quer se infiltrar e subverter a revolução, justamente neste momento de crise que pode ser uma parteira dela.
Dugin se ancora num anti-liberalismo para decretar um “fim-da-história” alternativo ao do Fukuyama. Para Fukuyama a história termina não para que outra comece. Mas para cristalizar um desejo de permanência. É coloquial. Um “tenho dito”. É da mesma natureza o que diz Dugin. Mas agora, ancorado no decreto liberal do “fim da história”, proclama, parecendo dizer o contrário, um novo fim da história numa “revolução conservadora” que só é “revolucionária” se considerarmos uma volta no tempo, sem uma máquina do tempo, revolucionária. As referências a um passado que nos lembra a “Terra Oca” dos nazistas e a “Terra Plana” revivida tece uma teia simbólica de loucura e irracionalismo, não um irracionalismo que dialoga com um racionalismo e o complementa ou contesta para evitar arroubos totalitários sobre o que determina a humanidade e seus rumos, mas um irracionalismo que é acachapante e absoluto como as naves de Clarke pairando sobre a Terra em o “[Fim da infância](https://duckduckgo.com/?q=fim+da+inf%C3%A2ncia+le+livros&atb=v154-1&ia=web)“.
Prosseguirei aos poucos mas por enquanto paro por aqui.
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